Políticas Públicas Para Acabar Com a Miséria Menstrual

O documentário norte-americano Period ganhou o Oscar em 2019 ao mostrar a situação de meninas e mulheres indianas que não continuavam seus estudos e projetos em função do ciclo menstrual. O filme encantou o mundo e a Academia pela sensibilidade com que tratou o assunto.
Essa, porém, é uma realidade no mundo inteiro, inclusive aqui em Curitiba. Meninas deixam de ir à escola porque não têm dinheiro para comprar absorvente e as escolas públicas até possuem recursos para este fim, mas não há uma lei, um procedimento que normalize essa política pública.
Por entender que ainda é um tema complexo, um tabu na nossa sociedade, estou propondo um projeto de lei para Curitiba que tem como finalidade oportunizar a realização de Campanhas Permanentes de caráter educativo na rede de ensino público municipal sobre a temática Ciclo Menstrual.
Temos de assumir publicamente que vivemos em um contexto de precariedade menstrual, em que crianças e jovens, sem acesso a absorventes higiênicos, utilizam materiais inadequados como jornal, papel higiênico, miolo de pão ou tecidos; e por consequência, seja por motivo de economia ou por falta de acesso à informação, se expõem a riscos de saúde como infecções.
Em pesquisa realizada pela marca Sempre Livre, da Johnson & Johnson, em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria, no Brasil, Índia, África do Sul, Filipinas e Argentina, foi constatado que:
54% das mulheres entre 14 e 24 anos não sabiam ou tinham poucas informações sobre menstruação no momento da primeira menstruação.
Da totalidade de entrevistadas 39% afirmaram pedir um absorvente emprestado como se fosse um segredo e tentam esconder de alguma forma que estão menstruadas;
43% das mulheres brasileiras não anda descalça ou conhece alguém que não faz isso durante esse período;
31% não lavam o cabelo ou conhecem alguém que evita esta ação durante o ciclo. Nessa linha,
74% das brasileiras deixam de entrar na piscina,
66% param de praticar esportes,
22% não têm medo de levantar durante a aula no período menstrual, e
24% não acham a menstruação nojenta.

Tornar a menstruação um tema para as meninas, principalmente das nossas periferias, é impedir que elas tenham barreiras à plena vivência escolar. Tanto pela falta de absorventes higiênicos como pela ausência de informações corretas.
Precisamos disseminar informações dentro das escolas municipais e fora delas, contribuindo para a formação social, bem como capacitar nossos professores e equipe pedagógica para implementação das ações de discussão também conscientizará as e os servidoras e servidores municipais sobre o tema.
Maria Leticia Fagundes é médica e vereadora de Curitiba pelo PV